quinta-feira, 6 de março de 2008

SÍNTESE DO POEMA DA GRATIDÃO

E nesta hora truanesca
Neste crepúsculo de milênio
Quando as sombras se adensam e a revolta graça
Nesta casa santuário, queremos dizer, Senhor!
Enquanto lá fora há o aturdimento e o desequilíbrio
Nós aqui queremos dizer-te que amamos a vida
Que para nós é bela e é consentida
Muito obrigado Senhor!
Pelo que me deste e pelo que me dás.
Muito obrigado pelo ar, pelo pão, pela paz
Muito obrigado pela beleza que meus olhos vem notar da natureza
Olhos que fitam o céu, a terra e o mar
Que acompanham a ave ligeira que corre fagueira pelo céu de anil, e se detém na terra verde
salpicada de flores em tonalidades mil


Muito obrigado senhor porque eu posso ver meu amor
Mas diante de minha visão
Eu detecto cegos que tropeçam na escuridão
Que andam na multidão
E que choram na solidão
Por eles eu oro e a ti eu imploro comiseração
Porque eu sei
Que depois dessa lida na outra vida eles também enxergarão

Muito obrigado pelos ouvidos meus
Que me foram dados por Deus
Ouvidos que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro
A melodia do vento nos ramos do salgueiro
As lágrimas que vertem os olhos do mundo inteiro
Ouvidos que ouvem a música do povo que desce do morro na praça a cantar
A melodia dos imortais, que a gente houve uma vez e não esquece nunca mais
A voz melodiosa, canora, melancólica do boiadeiro
E a dor que geme e que chora no coração do mundo inteiro
Pela minha faculdade de ouvir, pelos surdos eu te quero pedir
Porque eu sei
Que depois dessa dor, no teu reino de amor, voltarão a sentir

Muito obrigado pela minha voz
Mas também pela sua voz
A voz que canta
Que alfabetiza, que ilumina
Que solfeja uma canção
Que legisla
Pela voz, que emite a melodia de sua própria voz
Mas diante de minha melodia
Eu detecto na Terra os que sofrem de afazia
Eles não cantam de noite eles não falam de dia
Oro por eles
Porque eu sei, que depois desta prova, na vida nova
Eles cantarão

Obrigado pelas minhas mãos
Mas também pelas mãos que aram
Que semeiam
Mãos que agasalham
Mãos de ternura
Mãos que libertam da amargura
Mãos que apertam mãos
Mãos dos adeuses
De caridade e de solidariedade
Mãos que escrevem poesias
Mãos de cirurgia
Mãos de sinfonia
Mãos de psicografia
Pelas mãos que atendem a velhice
A dor
O desamor

Pelas mãos que no seio embalam o corpo de um filho alheio sem receio
E pelos pés que me levam a andar, sem reclamar
Muito obrigado senhor, porque eu posso caminhar
Mas diante do meu corpo perfeito
Eu olho na Terra
E encontro
Paralisados, maltratados, amputados, marcados, deformados
Eu oro por eles
Porque eu sei, que depois desta expiação
Na outra reencarnação
Eles também bailarão

Obrigado por fim, pelo meu Lar
É tão maravilhoso ter um lar
Não é importante se esse Lar é uma mansão, ou uma favela, uma tapera, um ninho, um grabato
de dor, um bangalô, Seja lá o que for
Mas que dentro dele, exista a figura do amor
O amor de mãe, ou de pai
De mulher ou de marido
De filho ou de irmão
A presença de um amigo
Alguém que nos de a mão
Pelo menos a companhia de um cão
Porque é muito doloroso viver na solidão
Mas se eu a ninguém tiver para me amar
Nem um teto para me agasalhar, ou uma cama para repousar
Nem aí reclamarei
Pelo contrário, eu cantarei
Obrigado senhor porque eu nasci
Muito obrigado porque eu creio em ti
Pelo teu amor, obrigado senhor!
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DIVALDO PEREIRA FRANCO
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