quarta-feira, 5 de novembro de 2008

IDÉIAS PRÉ-CONCEBIDAS


“A esse respeito é ainda muito interessante a parábola oriental da xícara
cheia: conta-se que um
discípulo foi visitar o seu mestre e lá se distendeu a revelar o quanto
já sabia de tudo, exibindo seus altos conhecimentos na intenção
de mostrar que já havia aprendido o bastante.

Enquanto isso o sábio
enchia a
sua xícara sem parar, até que o estudante, incomodado, interrompeu
o seu discurso, interrogando o motivo da estranha atitude, pois que o chá já
se derramava abundantemente sobre a mesa.

O mestre então lhe devolveu a
sábia lição: - assim está a sua mente,
filho, ela transborda conhecimentos e desse modo nada mais lhe será possível aprender.

É preciso urgentemente esvaziá-la.

Eis que, na atualidade, estamos como as xícaras cheias da parábola
oriental, pois orgulhosamente exibimos nossos fantásticos conhecimentos como
se tudo já soubéssemos, esquecidos da famosa recomendação de Sócrates ao nos alertar que o homem inteligente é aquele que sabe que nada sabe, e da
sabedoria de Confúcio, quem nos afiançou que o ignorante é aquele que é
incapaz de mudar de idéia.

Por isso precisamos de que novos paradoxos nos
esvaziem a mente, revelando os
pontos fracos de nossa pretensa sabedoria.

O intelecto, assim como o estômago, carece de evacuar-se, permitindo que um
novo aguçar do apetite nos estimule a busca por mais alimentos,
permitindo-nos
o crescimento e a subsistência.

E, somente ao se evidenciar a
incoerência do conhecimento, a razão pode denotar a sua avidez, predispondo-nos, assim, à procura de novos sabores que nos
satisfaçam o apetite psíquico.

Por isso, ai daquele que se encontra saciado de saber, sua “xícara” transbordante de
dogmas jamais lhe permitirá degustar os novos “petiscos” que a vida permanentemente nos oferta a fim de nos nutrir com a verdade.”
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Gilson Freire

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