terça-feira, 19 de agosto de 2008

TERAPIA DA SOLIDARIEDADE



A senhora, culta e nobre de sentimentos, dispondo de algum tempo livre,
resolveu aplicá-lo de forma útil.

Como o índice de suicídios na cidade onde residia era elevado, dedicou-se ao
edificante trabalho de atendimento do S.O.S-Vida, serviço telefônico para os
candidatos ao autocídio.

Submeteu-se ao treinamento e, três vezes por semana, dedicava duas horas de
seu dia, à relevante tarefa.

Em uma ocasião, foi surpreendida por uma voz feminina amargurada e nervosa,
que dizia: "pretendo matar-me ainda hoje. Antes de fazê-lo, quis comunicar
minha decisão a alguém. Por isso, estou telefonando."

Fiel ao compromisso de não interferir no drama do cliente, manteve-se
serena, indagando: "acredita que eu possa lhe ser útil?"

Com azedume, a paciente reagiu: "ninguém pode ajudar-me, nem o desejo.
Odeio o mundo e as pessoas.
Sou uma infeliz e pretendo encerrar esta existência vazia."

Como a senhora permanecesse em respeitoso silêncio a sofredora continuou sua
narrativa.

"Sou rica. Resido em uma bela mansão, no melhor bairro da cidade.
Tenho dois filhos: um homem e uma mulher, ambos casados e pais, que já me
deram quatro netos.
Sou membro da alta sociedade, freqüento ambientes luxuosos e requintados.
Tenho tudo o que o dinheiro pode comprar.
Mas sabe o que mais me irrita?
Pois eu lhe digo: em minha casa disponho de duas linhas telefônicas.
Sempre que a campainha soa e vou atender, trata-se de ligação errada.
Ou seja, ninguém se preocupa comigo.
Terminados os encontros formais, sociais, ninguém é meu amigo!"

"Então" - interferiu a senhora com habilidade - "permita-me telefonar-lhe
uma vez ou outra."

"Com qual interesse?" - perguntou a outra incrédula.

"Eu necessito de uma amiga." - respondeu serenamente.

Fez-se silêncio por um instante.
"Mas você não me conhece." - redargüiu, mais calma, a sofredora.

"Isso não é importante. Vou conhecê-la depois.

Forneça-me o número de seu telefone, por favor." - insistiu a senhora.

"Não tenho o hábito de dá-lo a estranhos." - respondeu um tanto contrariada.

"E como deseja, então, que a procurem?"

Depois de um instante de hesitação, ela cedeu e informou seu nome e número
telefônico.

Dois dias depois, a atendente telefonou para a desconhecida.
Conversaram sobre assuntos gerais.
A experiência repetiu-se muitas vezes.
Após alguns meses, resolveram conhecer-se pessoalmente em um café, e se
tornaram amigas.

Hoje, ambas trabalham no S.O.S-VIDA e o telefone, quando toca, é alguém
pedindo socorro, no que sempre é oferecido com carinho.

Aprendeu a amar.

Tornou-se útil e solidária.

Curou-se da solidão que a consumia e torturava.
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Recebe amor aquele que o doa.

Muitas vezes não o recebe da pessoa a quem o oferta. Isso, porém, não é
importante, desde que ame.

A solidão é doença que decorre do egoísmo.

Quando alguém se dispõe a sair da concha do "eu", enriquece-se de amor e de
solidariedade.
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EQUIPE DE REDAÇÃO DO MOMENTO ESPÍRITA
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