sábado, 6 de setembro de 2008

UM MINUTO APENAS


Ela era uma mulher feliz como poucas, pensava.

Casada com um homem por quem se apaixonara
nos verdes anos de sua adolescência, vivia
como uma mulher realizada.

E um filho para completar sua felicidade.

O que mais poderia desejar.

Ao despertar todas as manhãs, vivia o dia cantando.
Com alegria realizava todas as tarefas do lar,
cuidava de seu filho, e esperava o marido.

Tudo caminhava muito bem, até um dia que
descobriu que o homem que tanto amava
estava lhe traindo. E não era algo recente.
Este problema já existia a muito tempo.

Apreensiva dirigiu-se ao marido e exigiu respeito.
Sua resposta foi de forma bruta e violenta.
O homem encantador se transformou em um
homem irracional e agressivo.
E logo a agrediu.

Foi neste dia que ela viu que toda a segurança
de seu casamento havia terminado.
Era o máximo que podia suportar.
Não poderia seguir convivendo com alguém que
havia chegado a agressão física.

Então, numa manhã de muita tristeza, de muita
angústia, decidiu e tomou uma decisão muito séria.
Se mataria, terminaria com sua própria vida.

Mas desejava vingança.

Por isso, tomou o filho de quatro anos em suas mãos e decidiu que o mataria também.

Que o marido sofresse de arrependimento.

Seu destino era o farol da barra, próximo de onde vivia.

Conhecia aquele lugar e de onde o mar golpeava com violência no despenhadeiro.
Ao atravessar as ruas de imenso movimento, pois
trafegavam muitos carros,
seu filho escapou-lhe das mãos e correu pelo meio dos automóveis.

Ela se desesperou.

Estranho, levava o filho pelas mãos para atirá-lo
no despenhadeiro para que morre-se.

Mas quando o viu correndo perigo, se abandonou de si mesma e correu ao seu encontro, pegando-lhe pelas mãos.

Neste momento a criança se agachou e pegou
um papel que o vento ali deixou.

Ela o tira de suas mãos e um título em letras
grandes chama-lhe a atenção:

"UM MINUTO APENAS" Ela leu.

"Em um minuto apenas, a tormenta passa, a dor
passa, o ausente chega.

O dinheiro chega, o amor parte, a vida
continua."

Vai andando e lendo a página. Era uma página
escrita por um sábio.

Ela terminou de ler. Seu ímpeto passou.

Em um minuto apenas.

Lembre-se:

Pode ser um coração atento, uma mão amiga,
um pedaço de papel impresso caído na calçada.

Papel esse que o vento não levou.

Em um minuto apenas o amor volta.

A esperança renasce.

Em um minuto apenas o Sol aparece.

Não se desespere.

Espere...

Em um minuto apenas.

O socorro chega, o panorama se modifica,
a vida volta a florescer.

Tenha paciência.

Não se entregue a desesperança. Espere.

Em um minuto apenas. Sessenta segundos...

Uma vida...

Um minuto a mais.

"Em um minuto apenas a misericórdia divina
se derrama, as bênçãos corrigem os passos
escuros, depura, repara, transformam os
caminhos de luz rumo a uma vida maior..."
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Elizabeth Rampim

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1 comentários:

Anônimo disse...

Do livro O Semeador de Estrelas, de Suely Caldas Schubert, cap. 24.
Muito linda! Já conheceia, mas adorei reler aqui.
Um abraço,
Lísia