quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PRATIQUE A GENTILEZA

Lembro-me de uma campanha que durou infelizmente pouco tempo, cujo apelo era simplesmente: "Pratique gentileza!".

A lógica da campanha era que as pequenas gentilezas do dia-a-dia, desde um Bom dia!, um Tudo bem com você?, ou o simples ato de ceder o lugar para um idoso no ônibus já contribui para a vida social e, principalmente, para a vida pessoal pelo bem-estar que um gesto ou um sorriso de agradecimento pode proporcionar.

O professor, filósofo e escritor, Renato Janine Ribeiro, tem inserido em seus escritos e palestras a proposta de retomada das "boas maneiras"; expressão que ele considera mais adequada do que a palavra "etiqueta", que poderia levar a outro sentido, como ao uso dos talheres à mesa ou ao comportamento durante uma recepção elegante. Ele diz que pequenas mudanças de hábitos no trato inter-pessoal cotidiano baixaria os níveis de ansiedade, estresse e medo que hoje são comuns na nossa sociedade. Essa seria uma forma simples e prática de entender e praticar a "alteridade"?

Uma reeducação comportamental pela qual recuperássemos antigos e bons hábitos de relacionamento poderia contribuir para a vida social, hoje tão afetada pela agressividade de uns e pelo individualismo exacerbado de outros. É o medo. Emoção básica que todos nós - seres humanos como os outros seres da criação -, trazemos como mecanismo de sobrevivência, mas que pode adquirir aspectos doentios quando se reveste de uma centralização excessiva nos próprios interesses e valores, ou quando resvala para atitudes de controle e domínio sobre os outros. Uma verdadeira cegueira mental pode apoderar-se das pessoas que então deixam de perceber que viver é conviver.

Como começar? Todo começo é difícil, mas sempre possível. Um primeiro passo é o auto-conhecimento. Saber das próprias limitações e deficiências, tanto quanto de suas habilidades e potencialidades. Um segundo passo é a autodisciplina, que não significa assumir posturas de austeridade monástica. Disciplina é ter controle sobre apelos emocionais discutíveis, sobre mensagens áudio-visuais que em nada acrescentam à vida verdadeira, é resistir a aspectos meramente acessórios, supérfluos ou passageiros da vida. Disciplina não é abrir mão da parte boa da vida, mas saber apreciá-la com moderação.

Um outro ponto é “praticar a gentileza”, isto é, tornar-se uma pessoal agradável, seja pelo falar, seja pelo agir, mas sem afetação. Exercitar a compreensão, evitar conflitos ou confrontos desnecessários e se for necessário agir com energia, que ela seja temperada com a bondade. Ser generoso sem ser tolo. Ser tolerante sem complacência. Ser franco e sincero, porém sem grosseria. Entender que os outros têm todo o direito de conceber a vida como bem entenderem. Cada um tem seu tempo de maturação emocional e espiritual. Porém, nunca é demais lembrar que o motor das mudanças é a vontade.

Enfim, pôr tudo isso em prática no dia-a-dia da melhor maneira possível, no relacionamento com parentes, colegas de trabalho, amigos e amigas, companheiros de passagem em nossas vidas, sem tornar-se um chato nem piegas. Não imaginar que a vida será um mar de rosas só porque procuramos tratar bem as pessoas, pois eventualmente seremos mal-interpretados, incompreendidos e mesmo maltratados. Paciência, pois isso também faz parte da aventura da vida.
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Paulo R. Santos
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